15 de mar. de 2009

Terra e Liberdade

Título original: Land and Freedom
Direção: Ken Loach
Elenco: Ian Hart, Rosana Pastor, Icíar Bollaín, Marc Martinez
País: Grã Bretanha, Espanha, Alemanha e Itália
Ano: 1995
Duração: 109 minutos
Língua: Inglês, espanhol e catalão
Nota IMDb: 7,5
Cores: Colorido





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Ideologia x Realidade

A Guerra Civil Espanhola (1936–1939) talvez só perca em obscuridade para a Guerra da Coréia. Mas esse conflito foi um prelúdio da formação do mundo que iria surgir após a Segunda Guerra, um mundo dividido entre países socialistas e capitalistas (resumindo de forma simplória). Ela também representou um grande avanço no fotojornalismo, o que possibilitou que a guerra mundial tivesse ampla cobertura e inúmeros registros visuais. Esse é o plano de fundo para os conflitos ideológicos trazidos à tona por Ken Loach neste ótimo Terra e Liberdade.

O filme conta a história de David, um membro do partido comunista na Irlanda que se vê desempregado e decide ir lutar ao lado dos republicanos, que recebiam voluntários e armas da União Soviética, do México e de movimentos comunistas internacionais, contra os franquistas, apoiados pela Alemanha nazista, a Itália fascista e o regime de Salazar, em Portugal. As condições de luta eram precárias e o treinamento era básico. No decorrer da trama, ele se apaixona por uma companheira de combate, mas suas visões a respeito dos rumos do conflito e das ações da liderança divergem, o que acabará acontecendo entre os próprios milicianos mais adiante. A cada aldeia libertada, surgem novos questionamentos sobre o lado prático da revolução, isto é, as questões agrárias e de propriedade, e isso acaba dividindo o movimento comunista. Na prática, parecia que a ideologia era outra. Era o choque da realidade com o idealismo.

O longa é uma ótima oportunidade de ver como se formaram as brigadas internacionais, que contaram com nomes ilustres em suas fileiras, como Ernest Hemingway, George Orwell e Antoine de Saint-Exupéry. No filme, as cenas de combate são esparsas, mas pode-se ver uma encarniçada guerra de trincheiras e alguns momentos de guerrilha urbana.

Enfim, além de um recorte da guerra e da vida de um combatente, Terra e Liberdade é também uma crônica que, sem apontar culpados nem criar teorias conspiratórias, mostra como o movimento republicano pode ter se esfacelado por dentro antes mesmo de sofrer a derrocada final pelas mãos dos partidários de Franco. O que não é nenhum absurdo considerando os conflitos de interesse que surgem dentro de qualquer grupo humano, ainda mais naqueles com motivação política. Vale a pena.

Heber Costa

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Uma guerra civil… mas com ideologia

Historicamente, a Espanha foi o último país da Europa a entrar na era moderna, isso fez com que o processo de transição da monarquia para a república se transformasse numa verdadeira disputa entre as ideologias de direita e esquerda que se proliferavam no velho continente antes da Segunda Guerra Mundial — nazismo na Alemanha, fascismo na Itália e o comunismo na União Soviética. Não seria nenhuma novidade que o choque entre essas idéias levaria a Espanha a uma guerra civil de propulsões continentais, visto que participaram das batalhas combatentes de várias outras nacionalidades: eles lutavam por seus ideais e não pela nação espanhola — o filme Terra e Liberdade conota esse fato de forma bastante consciente. Vale lembrar que, dos acontecimentos do entreguerras, o mais importante foi a Guerra Civil Espanhola.

O ambiente da Espanha antes do ano de 1936 era de instabilidade, pois a monarquia espanhola vivia da nostalgia de um passado imperial grandioso com as suas conquistas no novo continente e mantendo um contingente elevado de oficiais no exército. A igreja era herdeira do obscurantismo e intolerância do medievo e via a sua participação no governo cada vez mais diminuir. A economia foi o ponto principal para levar ao fim o antigo regime absolutista. Com a crise mundial de 1929, foi necessário encaminhar o país a um novo patamar, levá-lo a uma modernização que só seria possível com a instalação da república — é bem verdade que essa crise pouco atingiu país, mas ela foi de extrema importância, pois desencadeou uma crise entre as classes sociais espanholas.

Após a instalação da república houve um momento de profunda instabilidade, com vários assassinatos entre as lideranças políticas, o que levou, no dia 18 de julho de 1936, o General Francisco Franco a insurgir o Exército contra o governo republicano. Contudo, o golpe não foi bem-sucedido, pois nas principais cidades, como a capital Madri e Barcelona, o povo saiu às ruas e impediu a consolidação total do golpe. O país em pouco tempo ficou dividido em duas áreas distintas: uma nacionalista, dominada pelas forças de Franco, e outra republicana, controlada pelos esquerdistas (anarquistas e comunistas).

Nesse período, a Espanha se viu em meio a confrontos ideológicos não só de ordem inversa, mas também entre as ideologias que nasceram de uma mesma “mãe” e trilharam caminhos diferentes, como as vertentes stalinista, anarquista ou trotsquista — novamente isso é bem explorado em Terra e Liberdade, que basicamente traz como ponto-chave a disputa de legitimação entre os pró-revolução e os pró-república. Isso gerou uma crise entre os esquerdistas, o que acabou enfraquecendo a sua organização. Após essa situação, o desfecho da guerra era o que os nacionalistas esperavam, melhor equipados e com o apoio bélico da Alemanha e da Itália, o exército nacionalista avançou sobre os republicanos e, no dia 28 de março de 1939, puseram um ponto final na Guerra Civil Espanhola.

Adriano Almeida

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