25 de jan. de 2009

Guerra em Bagdá

Título original: The Fight for Baghdad
Direção: Tim Prichard
País: EUA
Ano: 2005
Duração: 100 minutos
Língua: Inglês
Nota IMDb: não tem
Cores: Colorido
Trailer: o vídeo abaixo contém algumas





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A Guerra Sem Fim

Desde a Guerra do Vietnã, os conflitos armados tornaram-se objeto de transmissões ao vivo e fonte de imagens reais a serem transmitidas diretamente ao público. Não é nenhuma novidade que a mídia tem utilizado esse recurso não apenas para divulgar os “fatos”, mas também para exercer seu papel de formadora de opinião. Este documentário produzido pelo Discovery Channel é uma prova dessa nova forma de cobrir as guerras e do efeito que ela pode causar na opinião pública.

Baseado nas próprias imagens da guerra, em recriações feitas por computador e entrevista com militares envolvidos no conflito, Guerra em Bagdá retrata a chamada Operação Iraqi Freedom, ou seja, de libertação do Iraque, em 2003. Por um lado, vale destacar que há bastante ênfase em desmitificar o soldado hollywoodiano que não teme nada. Vários entrevistados falam nisso. São vidas reais que estão em jogo, mas esses soldados só percebem isso quando a primeira bala passa por cima. Também é interessante ver como opera a máquina de guerra americana, seus tanques
M1A1, seus A-10, etc. Por outro lado, cabe ao menos uma crítica: embora fale repetidamente na coalizão, há apenas uma menção aos britânicos. No mais, a imagens e entrevistas são exclusivamente dos americanos. Isso, no mínimo, pode gerar certa desconfiança quanto viés que está sendo dado.

É a Guerra do Iraque vista do ponto de vista dos EUA, sem dúvida alguma. Isso é ruim? Não necessariamente. Sabendo identificar e separar os discursos, as “verdades” e ideologias que estão sendo veiculadas, este documentário é um ótimo relato televisivo do que foi a tomada de Bagdá e a derrubada do regime de Sadam Hussein. O filme não questiona em nenhum momento (por falta de interesse ou por concordar?) os motivos do ataque, a saber as acusações contra o ditador iraquiano de apoio a terroristas fanáticos e de produção de armas de destruição em massa, que aliás não foram comprovadas até hoje. Não há como deixar de comparar essa ofensiva com os inúmeros golpes-de-estado militares ocorridos em vários países pelo mundo afora.

Embora ligeiramente tendencioso, o documentário suscita questões importantes quando dá voz aos soldados que ainda estavam lá em 2004 e já questionavam o seu papel de polícia e o impasse na retirada das tropas. Não é nada comparado à Guerra dos Cem Anos ou coisa parecida, mas cabe uma pergunta: por que essa guerra não termina afinal?

Heber Costa



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Território Inóspito


O conhecimento do terreno onde se irá travar as batalhas é um dos fatores que mais interferem no desfecho final da guerra. Normalmente os soldados nativos dos locais onde acontecem os combates levam certa vantagem, porém será que a tecnologia aliada a uma estratégia mais eficiente e um batalhão melhor equipado pode suplantar essa desvantagem?

A utilização dos aspectos naturais de determinado local faz grande diferença no transcorrer dos duelos, podemos notar isso nas grandes investidas fracassadas nos momentos mais importantes da história das guerras, exemplos não nos faltam: o ataque de Napoleão Bonaparte à Rússia, a investida alemã ao leste europeu na Segunda Guerra Mundial, a derrota americana no Vietnã e a retirada do Estados Unidos na primeira invasão ao Iraque. Contudo, muitas vezes a tecnologia e um plano estratégico eficiente falam mais alto do que o pouco conhecimento do campo de batalha.

O documentário Guerra em Bagdá mostra que a tecnologia aliada à estratégia podem fazer a diferença na hora H. Enquanto os americanos lutavam em tanques de última geração e com armas que podiam disparar sem colocar em risco a integridade física dos soldados, os iraquianos faziam uma espécie de guerrilha, com suas milícias e seus homens e carros bombas. Tentado utilizar as dificuldades encontradas pelos invasores, os iraquianos tentaram fazer com que as batalhas acontecessem de forma fracionada e isolada umas das outras, porém tal estratégia foi inútil para parar a investida americana.

Com o fim da Guerra Fria, o Estados Unidos mostrou ao mundo — especialmente na Guerra do Iraque — uma nova forma de guerrear: utilizando a mais alta tecnologia no campo de batalhas e cada vez menos expondo os seus soldados eles conseguem levar “a confusão para o quintal do seu inimigo”. Alguns podem dizer que isso tornou a guerra menos clássica e mais desumana, mas quando é que ela foi humana?


Adriano Almeida

15 de jan. de 2009

Corações e Mentes

Título original: Hearts and Minds
Direção: Peter Davis
País: EUA
Ano: 2005
Duração: 112 minutos
Língua: Inglês, francês e vietnamita
Nota IMDb: 8,5
Cores: Colorido
Trailer






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Corações e Mentiras

Reunindo um conjunto importante de entrevistados, imagens de arquivo e filmadas in loco, o premiado documentário Corações e Mentes definitivamente é um dos mais viscerais já realizados sobre o envolvimento americano no Vietnã. Em parte, isso se deve ao fato de o filme ter sido produzido em 1974, logo após a saída dos EUA e já no final do conflito, agora combatido exclusivamente pelos vietnamitas.

Entre os entrevistados estão assessores, secretários de Estado, jornalistas, militares, religiosos, veteranos, prisioneiros de guerra, líderes, desertores, políticos e civis tanto americanos quanto vietnamitas, pró e contra a ação militar no Sudeste Asiático. Alguns dão depoimentos pungentes, emocionados e revoltados; outros buscam analisar racionalmente as causas e conseqüências do conflito. Esses dois tipos de entrevistas somados às declarações de presidentes de ambos os países são costurados para formar a base discursiva do documentário, que visa claramente mostrar que a Guerra do Vietnã foi um erro induzido por má inteligência militar e valorização da cultura beligerante. Apesar disso, vale dizer, o filme não tem caráter explicitamente militante pró-comunismo ou contra o capitalismo: acima de tudo, é um filme contra a guerra e a política externa que foi desenvolvida para justificar a ação militar.

Bombardeios, pronunciamentos oficiais, torturas, desfiles cívicos, execuções, volta de prisioneiros de guerra, manifestações pacíficas, combates, enfim algumas das imagens mais importantes da época e da própria guerra — a primeira a ser acompanhada intensamente pela mídia praticamente em tempo real — estão presentes neste filme.

Talvez por ter sido produzido no “calor do momento”, Corações e Mentes não se presta a grandes explicações didáticas, deixando muitas referências abertas, nem enfatiza uma linha narrativa cronológica do conflito. Em outras palavras, aparentemente tem o objetivo de trazer outro ponto de vista a quem já conhece a história oficial da Guerra do Vietnã: o lado obscuro da história.


Heber Costa




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O que aprendemos com isso?


Sempre são feitas reflexões a respeito das medidas tomadas no transcorrer das guerras, foi assim após a primeira grande guerra, na segunda também não foi diferente, na Guerra do Vietnã, do Iraque, etc. Contudo, nem sempre conseguimos enxergar as verdadeiras conseqüências das guerras.

O que acontece nas guerras tem conseqüências avassaladoras na vida das pessoas podendo mudá-las para melhor ou pior. O documentário Corações e Mentes, sobre a Guerra do Vietnã, mostra uma certa dimensão do conflito em que, muitas vezes, os soldados não tem noção da conseqüência dos seus atos. Um dos momentos mais marcantes do documentário é o depoimento de um piloto americano ao dizer que não tinha essa noção e imagina como seria se isso chegasse a acontecer com seus filhos.

Não precisamos nos esforçar muito para imaginar o impacto dos acontecimentos nas populações do Vietnã e dos Estados Unidos. No transcorrer das batalhas, o modo de ver, pensar e reagir foi se modificando, e o que no início era apoio passou a ser contestação — com relação aos norte-americanos —, e de uma resistência pequena a uma feroz guerrilha contra os invasores. Não se pode negar a diferença entre o poderio bélico das duas nações, mas o menosprezo dos comandantes norte-americanos levou a subestimar o poderio humano dos vietcongues.

Historicamente vemos que sempre existe uma mudança no pensamento das pessoas — estando ou não ligadas diretamente à guerra — com relação aos acontecimentos. Algo natural, pois não temos como imaginar a conseqüência de tais acontecimentos na vida das pessoas.

Muitos podem dizer que aprendemos coisas para não repeti-las no futuro, porém a história nos mostra que não é isso exatamente o que acontece.

Adriano Almeida

5 de jan. de 2009

Razões para a Guerra

Título original: Why We Fight
Direção: Eugene Jarecki
País: EUA
Ano: 2005
Duração: 98 minutos
Língua: Inglês e árabe
Nota IMDb: 8,1
Cores: Colorido
Trailer







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Por que Eles Lutam?

Um alerta de Eisenhower, ao deixar a presidência dos EUA em 1961, é a premissa deste documentário de Eugene Jarecki. Em seu último discurso, ele adverte sobre os perigos do desenvolvimento exacerbado de um “complexo militar-industrial” e da política de militarização permanente do Estado.

Partindo desse ponto, o diretor estabelece as conexões nem sempre visíveis entre a política externa, as ações militares, os rumos econômicos e as discussões políticas por trás da guerra. Razões para a Guerra é na verdade um estudo, com mais perguntas do que respostas, sobre a política belicosa dos EUA e os motivos por trás dela.

Esse estudo se dá num nível macro — que compreende as articulações políticas e discursos oficiais de ambos os lados (os que apóiam e os que não apóiam a militarização) — e no nível micro — que é o nível pessoal, daquelas histórias que são diretamente influenciadas pelos rumos que o país toma.

Embora dê voz a ambos os lados, o documentário de Jarecki não é nem um pouco neutro: ele constrói um discurso claro e veemente contra o caminho que os EUA vêm seguindo. Mas isso eleger um bode expiatório. O filme mostra que isso vem sendo praticado há anos, mas que os investimentos militares vêm crescendo exponencialmente e a olhos vistos enquanto que as ameaças tornam-se cada vez mais invisíveis e nebulosas. Como justificar então que 22% (quase 1/4) do orçamento global do país seja direcionado para a defesa?

Essa e outras perguntas, como a do próprio título original (“Por que lutamos?”), são feitas direta ou indiretamente aos entrevistados — que incluem membros do alto escalão do governo, militares da reserva e da ativa, agentes da inteligência, mas também o cidadão comum — e ao próprio espectador. O título original, aliás, é o mesmo da série de filmes produzida pelo legendário Frank Capra no início da Segunda Guerra para convencer a população a abraçar a causa. Na época, essa pergunta parecia ter uma resposta clara; hoje, as razões parecem nebulosas.

Para nós, não-americanos, o que se vê é que os EUA possuem massa crítica dentro das suas próprias fronteiras para avaliar as atitudes dos seus governantes, tentando ao mesmo tempo acreditarem o seu país e confiarem neles.


Heber Costa


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Mocinhos e Bandidos

Sempre que se conta uma estória procuramos estabelecer lados distintos: bem e mal, vítima e vilão, mocinho e bandido, etc. Porém nunca procuramos entender o porquê de os personagens fazerem parte de algum dos dois lados — se é que realmente existem “lados”. Acabamos olhando pelos olhos de outros. Isso pode ser bem observado nos fatos mais marcantes da nossa história contemporânea, tais como as bombas atômicas, a criação do Estado de Israel, a Guerra do Iraque, a invasão do Afeganistão, o 11 de setembro, entre outros. Alguns dizem que foram decisões acertadas; outros defendem a idéia de que foi “um mal necessário”; e há os que acreditam que foram atos horríveis, o que acaba influenciando profundamente a opinião pública.

O documentário Razões Para a Guerra cria uma situação um tanto inusitada, pois elabora, a partir do 11 de setembro, uma cronologia histórica da industria bélica norte americana e sua atuação nos fatos mais marcantes da nossa era. Partindo do pressuposto de defesa da liberdade e da democracia e estabelecendo um combate direto e indireto com o bloco socialista, a “máquina de guerra” americana criou, financiou e até mesmo acabou com várias batalhas. Impregnado por ideais freqüentemente duvidosos e na maior parte do tempo apenas com a intenção se autopromover, esse grupo ditou as normas dentro e fora dos Estados Unidos muitas vezes foram apoiados; outras, severamente criticados.

Apesar de ter uma vertente de contestação, o documentário retrata a opinião da população norte-americana em todos os seus aspectos — positivos e negativos. Um dos melhores momentos do documentário foi a quase premonição do presidente americano Eisenhower sobre o perigo de se criar um verdadeiro Frankenstein. Bem, historicamente é um excelente apoio didático e culturalmente um ótimo esclarecedor de opinião.

Vale lembrar que não podemos procurar mocinhos e bandidos nos fatos históricos, pois os homens são apenas figurantes, e não os personagens principais.

Adriano Almeida

Documentários

Começamos este ano de 2009 com algumas mudanças no Cenas da Guerra.

Primeiro, extinguimos a seção "Indicação de Livro", por razões muito práticas e sinceras: 1) Não estávamos conseguindo indicar livros relacionados ao assunto; 2) Não queríamos indicar livros que não tivessem a ver com a temática tratada; 3) Não achamos justo indicar livros que não lemos apenas para preencher espaço. Assim, decidimos focar no que realmente está em voga neste blog: os filmes.

Segundo, vamos inaugurar o ano com um bloco de filmes que são semelhantes não exatamente na sua temática, mas no seu gênero. Como vocês já devem ter adivinhado pelo título desta postagem, vamos trabalhar três documentários relacionados à guerra que acreditamos serem relevantes para vocês.

Aguardamos suas sugestões, críticas e (por que não?) elogios.

Adriano Almeida e Heber Costa