25 de nov. de 2008

Falcão Negro em Perigo


Título original: Black Hawk Down
Direção: Ridley Scott
Elenco: Josh Harnett, Ewan McGregor, Orlando Bloom, Eric Bana
País: EUA
Ano: 2001
Duração: 144 minutos
Língua: Inglês e somali
Nota IMDb: 7,6
Cores: Colorido
Trailer









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Perdidos numa Guerra Civil

Em 1993, mesmo recém-saídos da Guerra do Golfo, os EUA tinham missões em vários países, entre eles Iugoslávia, Kenya, Haiti e Somália, onde colaboravam com uma força da ONU. Esta última é o teatro de operações do filme Falcão Negro em Perigo, inspirado no livro de Mark Bowden.

A missão mostrada no filme foi uma ação conjunta das forças americanas na capital Mogadíscio (basicamente de Deltas e Rangers, tropas da elite do exército) para capturar indivíduos-chave do grupo político de M. Aidid, um dos pivôs do conflito armado. A operação se complica quando um dos helicópteros Black Hawk é atingido por milícias e cai no meio da cidade. O plano inicial, que previa 30 minutos de ação, precisa ser alterado para resgatar os sobreviventes da queda. Com isso, as tropas americanas perdem o elemento-surpresa, e os soldados das milícias caem em cima. O resultado é um combate que segue até a manhã do outro dia e um saldo de vinte soldados americanos e mais de mil somalianos mortos.

Percebe-se, pelos equipamentos e funções (espionagem, invasão de prédios, etc.), que os Deltas agem mais como uma espécie de esquadrão tático (como a SWAT), enquanto os Rangers atuam com mais poder de fogo e força. É interessante observar a estratégia de guerra urbana e o moderno armamento. Os diálogos focam no jargão militar e em termos técnicos estratégicos, afora alguns momentos de diálogos constrangedores e discussões políticas não aprofundadas.

Em comparação com o livro, histórias de várias pessoas foram concentradas num só personagem fictício, como Grimes (Ewan McGregor). Sobre a história real dessa operação, vale a pena assistir o documentário homônimo do History Channel. Nele, é possível perceber que o fim de alguns americanos foi bem pior do que mostrado no filme: alguns foram despidos e arrastados, imagens que chocaram os norte-americanos. A verdade é que ninguém sabia bem o que os EUA estavam fazendo na Somália.

Tecnicamente, no entanto, Ridley Scott faz de Falcão Negro em Perigo um dos melhores filmes de guerra já produzidos. O uso de lentes especiais em várias tonalidades de cor, de filtros granulados e de tomadas inovadoras torna o filme interessantíssimo no aspecto visual, ficando um ponto negativo apenas para as gritantes falhas de continuidade na luz natural. A trilha oscila entre música do Oriente Médio e rock. Os efeitos são primorosos, e elenco está recheado de atores conhecidos e coadjuvantes de luxo. Um filme acima da média.



Heber Costa



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Intervir ou não intervir?


Uma das ações mais comuns na atualidade são as intervenções militares. Podemos falar que é uma nova forma de denominar as guerras, sendo os motivos que levam a tais ações os mais variados possíveis — vão desde as “em busca da ordem e da paz” até as “cruzadas contra o terror”. Nos anos 1990, tal ato era corriqueiro, uma prática aplicada pelos países europeus e os Estados Unidos às nações, principalmente, africanas, que estavam mergulhadas em guerras civis. Um das mais marcantes foi a intervenção na Somália entre 1992 e 1995.

A Somália é um país situado, estrategicamente, no nordeste do continente africano, geograficamente serve de ligação entre África e Ásia. Após passar por um duelo com a Etiópia e sair derrotada, a Somália entra em um período de profunda agitação social que levaria a uma guerra civil. Com uma política opositora e o pouco apoio que recebia da população, o governante somali se vê obrigado a deixar o poder em 1992, deixando o caminho aberto para as milícias disputarem a bombas e balas o controle do país. Nesse momento, a Organização das Nações Unidas (ONU) decide que seria necessária uma intervenção militar para garantir o bem-estar e a segurança da população somali e dos países vizinhos. Liderada pelos norte-americanos, a força de paz da ONU acaba não sendo bem recebida por uma boa parte da população, principalmente pelos lideres das milícias que acreditavam que aquela guerra não era dos dos brancos e que o único modo de estabelecer uma ordem era através da opressão dos outros grupos inimigos. Mogadíscio — capital da Somália — vira um verdadeiro barril de pólvora, uma zona hostil para qualquer um que não fizesse parte do grupo de que domina aquela região, e o malogro era só uma questão de tempo. O fracasso foi reconhecido em 1995 quando foram retiradas todas as tropas de paz da ONU que se encontravam no país.

Falcão Negro em Perigo é um bom filme que retrata a hostilidade por parte da maioria da população de Mogadíscio para com as forças de paz da ONU. Poderia ser apenas mais um filme de bombas e tiros, porém a forma como ele aborda a questão social e a relação de animosidade entre estrangeiros e nativos faz com que se tenha uma reflexão sobre a importância e forma como se fazem as chamadas intervenções militares na atualidade. Exemplos de insucesso é que não faltam em nossa história.




Adriano Almeida


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15 de nov. de 2008

Hamburger Hill


Título original: Hamburger Hill
Direção: John Irvin
Elenco: Dylan McDermott, Steven Weber, Courtney B. Vance, Don Cheadle
País: EUA
Ano: 1987
Duração: 110 minutos
Língua: Inglês e francês
Nota IMDb: 6,5
Cores: Colorido
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Lama e Sangue na Colina 937

Na metade dos anos 1980, os EUA começavam a exorcizar o fantasma do Vietnã. É aí que surge Hamburger Hill, um filme bom que acabou ofuscado[1] por contemporâneos que se tornaram clássicos do gênero e referência sobre a época, como Platoon (1986), Nascido Para Matar (1987), Pecados de Guerra (1989) e Nascido em 4 de Julho (1989).

Filmado nas Filipinas, país de relevo e vegetação muito semelhantes ao Vietnã, o filme se passa em 1969, na campanha do Vale Ashau (a oeste de
Hué próximo à fronteira com o Laos), durante os onze dias da operação Apache Snow — o ataque à Colina 937, ou “Hamburger Hill” (no sentido de carne moída). Nixon acabara de assumir a presidência. A essa altura, mais de 30 mil americanos já haviam morrido, a guerra já parecia absurda e o movimento pela paz e a luta contra a discriminação racial se intensificavam.

Tais divergências de opinião estão presentes no esquadrão[2] do Sgt. Frantz (Dylan McDermott), cujo único propósito é preservar a vida de seus soldados e sobreviver. Aqui, elementos típicos do conflito são retomados: treinamento, dialeto dos GIs, músicas de época, antipatia para com novos recrutas. Também se pode ver muito da tática empregada na época: pelotões[2] (munidos de
M16s, M60s e M79s) avançam com apoio de bombardeios. Os combates retratados são ferozes, fazendo deste filme um dos mais violentos sobre o Vietnã.

Entre as investidas contra o morro, a espera. Aí surgem as questões raciais, a guerra psicológica (propaganda inimiga) e debates sobre o rumo e o sentido da guerra, assim como o problema da reintegração do soldado ao “mundo real”. No decorrer do filme, as diferenças ficam mais explícitas e, ao mesmo tempo, são minimizadas diante da isonomia com que a guerra atinge a todos os soldados — brancos, negros ou asiáticos[3]. Nesse ponto, Hamburger Hill fraqueja. Idéias interessantes se perdem em diálogos truncados e até desconexos, prejudicando o aprofundamento das discussões.

Ainda vale destacar o papel dos oficiais: aqui, não há comandantes turrões, que trovejam ordens a torto e a direito. Na figura do Ten. Eden, o oficial é retratado como alguém que tem conhecimento teórico e voz de comando, mas pouca experiência de combate. Não se percebe qualquer animosidade entre superior imediato e comandados.

Enfim, com boas cenas e combates — apesar de a fotografia oscilar entre a inovação e o convencional (às vezes, parece filme para TV) —, Hamburger Hill retrata com crueza o que foi aquela operação contra o Exército Norte-Vietnamita (ENV)[4]. E o mais importante: mostra quão suja, sangrenta e trágica foi a tomada do Monte 937.



Heber Costa



[1] Do elenco, ao menos um ator ganhou projeção: Don Cheadle (Hotel Ruanda, 2004), que entrou para a trupe de George Clooney em Onze Homens e um Segredo.
[2] Na infantaria (EUA), um esquadrão tem de sete a nove homens e é comandando por um sargento. Um pelotão tem trinta homens, sendo liderado por um tenente.
[3] O roteiro comete uma injustiça: ao lado dos americanos, combateu um batalhão de sul-vietnamitas da 1ª Divisão, que sequer foi mencionado no filme.
[4] Vale fazer uma distinção: nesse caso, era o exército regular (EVN), e não os vietcongs, braço guerrilheiro que atuava mais no sul, especialmente no delta do Mekong. Nesses onze dias, foram 544 mortos do EVN contra 50 americanos.



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Apenas Mais um “Monte”

As lembranças que ficam da guerra sempre são as das montanhas de mortos. Não há como se evitar as baixas e, por incrível que pareça — tratando-se em números percentuais —, as mais numerosas ocorrem nas operações de assalto: mesmo com toda a sua eficácia, tais situações levam a grandes contingentes mortes tanto de militares quanto de civis. Uma das guerras onde se pode verificar a grandeza desses números é a Guerra do Vietnã, na qual morreram cerca de 2 milhões de vietnamitas e 50 mil norte-americanos. Observa-se a disparidade entre esses números: as baixas vietnamitas foram enormes em relação às americanas. Um das batalhas que melhor exemplifica essa situação foi a tomada da Colina 937 — conhecido entre os soldados como Hamburger Hill — no Vale Ashau.

O Vale Ashau era utilizado como principal ponto de chegada de suprimentos no Vietnã, a tomada desse monte era vital para quebrar o abastecimento das tropas inimigas. A ofensiva durou 11 dias, e o mais impressionante dessa operação foi o número de cadáveres e a situação do terreno ao final do combate. Lutando de forma quase desigual, os nativos conseguiram igualar as coisas, pois estavam numa melhor posição e com bases fixas a espera do inimigo. Os americanos utilizaram a tática habitual em uma situação como essa no Vietnã — os constantes bombardeios da artilharia e os ataques aéreos com o napalm fazendo o monte "brilhar". Sem dúvida, foi uma das mais sangrentas batalhas do ano de 1969, e as suas conseqüências não ficaram apenas na dominação das rotas de abastecimento da região. Foram além dali, repercutiram de forma dura na imagem que a guerra tinha nos Estados Unidos — nesse período a opinião publica já vinha questionando a necessidade da participação na guerra. O número de mortos e feridos levou o governo norte-americano rever a sua política ao combate no Vietnã.

O filme Hamburger Hill, que relata a história sobre a tomada do Monte 937, não podemos identificar grandes momentos históricos, a conseqüência desse evento foi mais político, contudo ele serve com um bom entretenimento para os que gostam da primeira guerra perdida pelo Estados Unidos da América.




Adriano Almeida

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5 de nov. de 2008

O Grande Ataque

Título original: The Great Raid
Direção: John Dahl
Elenco: Benjamin Bratt, James Franco, Joseph Fiennes, Connie Nielsen
País: EUA e Austrália
Ano: 2005
Duração: 132 minutos
Língua: Inglês, filipino e japonês
Nota IMDb: 6,8
Cores: Preto-e-branco/colorido
Trailer









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Prisioneiros de Guerra e a Luta pelas Filipinas

A pouco falada campanha nas Filipinas, iniciada logo depois do ataque a Pearl Harbor, é o contexto deste O Grande Ataque. Passado em 1945, o filme retrata uma missão verídica de uma tropa de Rangers no resgate a prisioneiros remanescentes da rendição de cerca de 70 mil filipinos e americanos, ocorrida em Bataan (abril/1942), utilizando com base em dois livros: The Great Raid on Cabanatuan, de William B. Breuer, e Ghost Soldiers, de Hampton Sides. O resgate torna-se uma corrida contra o tempo, já que os japoneses tinham começado a executar prisioneiros por conta do avanço do 6º Exército Americano sobre as Filipinas.

Embora pouco inovador, o longa traz alguns aspectos interessantes. Primeiro, a cooperação filipino-americana nos anos 1940. Isso pode logo ser percebido nos armamentos que carregam: são fuzis, bazucas e metralhadoras americanas (Thompsons e Brownings M1919) misturadas a armas mais antigas (em uma cena, é possível ver uma Vickers, da Primeira Guerra). Vale notar que os filipinos, bem representados pelo Capitão Pajota, não são meros paus-mandados, intervindo com observações ao plano de resgate, especialmente no que toca ao conhecimento do terreno — fator de fundamental importância em qualquer estratégia militar.

Esse, aliás, é o segundo ponto de destaque. No decorrer do filme, é explicitada a estratégia global do resgate, bem como seus ajustes, mas também se pode observar várias vezes as táticas de nível mais elementar, como a de usar fogo de supressão e depois flanquear o inimigo, consagrada na Segunda Guerra. Um terceiro fator interessante são as cenas reais utilizadas no começo e no fim de O Grande Ataque. Remasterizadas, essas imagens contextualizam e retratam os dois principais fatos: a derrota em Bataan e o resgate em
Cabanatuan, envelopando bem esse recorte histórico.

No aspecto técnico, o filme é razoável. Embora haja um romance paralelo, muitas cenas de campo de concentração (nada de novo) e pinceladas da ação da resistência filipina, a trama se sustenta só mesmo pela missão. Em vista desse foco, Os personagens, com raras exceções, não são bem desenvolvidos, o que gera atuações na média, nada que cause embaraço. Há ótimas cenas de ação — realistas e com pirotecnia na dose certa. O longa ganha pontos a mais também pelo uso dos idiomas originais (filipino, japonês e inglês). Apesar de um pouco romantizado, O Grande Ataque é uma boa oportunidade de se conhecer uma operação bem planejada, ver boas cenas de combate e ter uma visão da Segunda Guerra por um outro foco.


Heber Costa



Curiosidade: o Gen. Krueger é interpretado por Dale Dye, fuzileiro veterano do Vietnã, hoje consultor militar e ator de vários filmes de Hollywood, entre eles Band of Brothers, O Resgate do Soldado Ryan, Platoon, Pecados de Guerra e Nascido em 4 de Julho.



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Taticamente Perfeitos


Entre todas as batalhas durante uma guerra as mais incríveis são sem duvida as chamadas operações especiais, não por se tratar de situações específicas dentro dos combates, mas pelo desprendimento de conhecimento tático e empenho dos personagens envolvidos em tais eventos. Historicamente, os desenlaces das operações especiais mudaram o rumo das batalhas, se não das próprias guerras. Não falo apenas pela mais famosa delas — o Dia D —, mas, sim, pelas inúmeras outras que existiram e deram outro encaminhamento para o desfecho da Guerra. O filme O Grande Ataque utiliza a ocupação das Filipinas pelo exercito japonês, a resistência dos civis e o resgate de um grupo de soldados do campo de Cabanatuan de um campo de prisioneiros para relatar os fatos ocorridos no ano de 1945.


Estrategicamente situada na rota que as tropas nipônicas utilizavam para seguir em direção ao oeste da Ásia, essa região era ponto estratégico para o futuro da guerra no Pacífico. Sendo invadidas pelo exercito japonês em 1941, as Filipinas eram ocupadas desde 1937 pelo exército americano, que não conseguiu resistir aos ataques investidos contra as suas principais bases. Apesar da resistência montada pelos ianques e os insurgentes filipinos, os japoneses conseguiram conquistar quase todo o país. Isso se deve ao fato de as ilhas estarem a uma longa distância dos quartéis-generais dos Estados Unidos e à saída do General MacArthur da península, o que levou à desarticulação dos norte-americanos. Durante a retomada das Filipinas, um evento chama a atenção pelo seu impacto nas tropas envolvidas — tanto americanas quanto japonesas — o regaste dos prisioneiros em Cabanatuan. Uma operação taticamente bem montada e executada com maestria foi responsável por uma das mais eficientes operações do combate da história. Não só pelo seu êxito, mas principalmente pelo fato de que nem sempre sairá vencedor da batalha o lado que tiver o maior exército e o melhor equipamento, e sim aquele que estiver estrategicamente melhor montado.


O filme pode ser utilizado como um bom apoio didático para as aulas sobre as ocupações na Ásia Insular durante a Segunda Guerra, não deixando de ser um bom entretenimento para apreciadores ou não dos filmes de guerra.



Adriano Almeida




Operações Especiais

Ninguém melhor que os soldados para saber que uma guerra é vencida metro a metro, dia a dia, missão a missão, batalha a batalha. Reconhecendo isso, lançamos o novo tema dos próximos três filmes: operações especiais. É a guerra no microscópio. Uma análise do detalhe para compreender o todo. Escolhemos três filmes inspirados em fatos reais sobre missões de conflitos diferentes que exigiram dos combatentes estratégia, perseverança e, acima de tudo, coragem. Hoje, o primeiro filme do bloco Operações Especiais.


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