25 de mar. de 2009

Salvador

Título original: Salvador
Direção: Oliver Stone
Elenco: James Woods, Jim Belushi, Michael Murphy, John Savage
País: Estados Unidos
Ano: 1986
Duração: 123 minutos
Língua: Inglês e espanhol
Nota IMDb: 7,5
Cores: Colorido







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Morte e Medo sob o Coturno da Repressão

Após a segunda metade do século XX, os EUA passaram a interferir mais diretamente na política interna dos países da América Latina. É nesse contexto que se passa o enredo de Salvador, dirigido por Oliver Stone, que saiu junto com o clássico Platoon e por isso acabou ofuscado.

O filme segue Richard Boyle, um fotojornalista porra-louca que precisava dar uma guinada na sua vida e na sua carreira, durante o tempo que ele passou em El Salvador no fim da década de 1970, início de 1980, quando o presidente Carlos H. Romero foi derrubado e começou uma verdadeira guerra civil entre as guerrilhas que já lutavam desde o início dos anos 1970 e a junta militar que subiu ao poder. No começo cauterizado por outras guerras, Boyle vai se sensibilizando com a situação do país, especialmente depois de se envolver amorosamente com uma salvadorenha e depois que a verdade sobre os massacres vai ficando cada vez mais escancarada. A situação chega a um ponto insustentável com o estupro e a execução de freiras americanas que prestavam ajuda humanitária na região.

Embora não seja nenhuma obra prima, muitas vezes sendo mais um retrato da viagem psicodélica de Boyle, Salvador tem o mérito de mostrar com crueza contundente o que ocorreu naquele pequeno país, denunciando também a relação dos americanos com os militares salvadorenhos. Embora tenha sido feito com um orçamento irrisório para padrões hollywoodianos (em torno de 2 milhões de dólares), as cenas de ação são bem feitas e a produção em geral é boa. O elenco, que contava com atores como James Woods, Jim Belushi e John Savage, consegue um bom desempenho, principalmente Woods, que foi responsável por uma das duas indicações ao Oscar que o filme recebeu (a outra foi Melhor Roteiro Adaptado).

No making-of, o embaixador americano em El Salvador à época, Robert White, interpretado (sob o nome fictício de Thomas Kelly) por Michael Murphy, embora negue que tenha tomado certas medidas mostradas em Salvador, comentou que o filme atinge o propósito de mostrar as estranhas relações entre militares salvadorenhos e americanos e questionar o financiamento de tais operações. Ele foi uma das testemunhas da acusação contra os assassinos das freiras. Mas esse foi apenas um dos inúmeros crimes humanitários cometidos em El Salvador.

Heber Costa

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Para que intervir?

Durante muito tempo os países da América Latina viveram sob influência dos blocos político-econômicos das décadas de 1980 e 1990 — capitalismo e socialismo. Essa dualidade gerou vários conflitos civis, em que frentes populares de esquerda duelavam com governos apoiados por países capitalistas. Em algumas nações a “ajuda” se dava por meio de investimentos financeiros e militares; em outros, a intervenção acontecia de forma mais direta; em certos casos, as duas coisas.

Intervenções eram comuns na América Latina durante as décadas de 60, 70 e 80, quando as ditaduras eram financiadas pelo capital e a logística de países do primeiro mundo, como os Estados Unidos. Isso acabava gerando guerras civis levando os países a uma verdadeira dependência econômica após o final dos conflitos.

Em El Salvador, aconteceu uma intervenção militar dos Estados Unidos durante a guerra civil que durou 12 anos, custando a vida de cerca de 75.000 pessoas — isso é bem mostrado no filme Salvador, que apesar de tratar de um caso particular explora muito bem o cotidiano da população salvadorenha no conflito armado entre o governo e a guerrilha de esquerda, organizada em torno da Frente Farabundo Martí de Libertação Nacional (FMLN). Durante o tempo do conflito, as disputas entre os blocos socialistas e comunistas se mostraram bastante disformes, pois o governo de direita recebia um total apoio político e militar enquanto as guerrilhas de esquerda lutavam com armas ultrapassadas e precárias e praticamente não recebiam apoio militar dos comunistas dos países do primeiro mundo — União Soviética, por exemplo.

Essas situações foram muito bem exploradas por Oliver Stone em Salvador, um filme bem interessante do ponto de vista histórico, que mostra a disparidade entre as duas forças que duelavam — enquanto o governo atacava com tanques e aviões americanos os guerrilheiros investiam com cavalos. A guerra chegou ao fim em 1992, quando o governo e a guerrilha assinaram um tratado que levou a reformas militares e políticas.

Adriano Almeida

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