15 de nov. de 2008

Hamburger Hill


Título original: Hamburger Hill
Direção: John Irvin
Elenco: Dylan McDermott, Steven Weber, Courtney B. Vance, Don Cheadle
País: EUA
Ano: 1987
Duração: 110 minutos
Língua: Inglês e francês
Nota IMDb: 6,5
Cores: Colorido
Trailer









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Lama e Sangue na Colina 937

Na metade dos anos 1980, os EUA começavam a exorcizar o fantasma do Vietnã. É aí que surge Hamburger Hill, um filme bom que acabou ofuscado[1] por contemporâneos que se tornaram clássicos do gênero e referência sobre a época, como Platoon (1986), Nascido Para Matar (1987), Pecados de Guerra (1989) e Nascido em 4 de Julho (1989).

Filmado nas Filipinas, país de relevo e vegetação muito semelhantes ao Vietnã, o filme se passa em 1969, na campanha do Vale Ashau (a oeste de
Hué próximo à fronteira com o Laos), durante os onze dias da operação Apache Snow — o ataque à Colina 937, ou “Hamburger Hill” (no sentido de carne moída). Nixon acabara de assumir a presidência. A essa altura, mais de 30 mil americanos já haviam morrido, a guerra já parecia absurda e o movimento pela paz e a luta contra a discriminação racial se intensificavam.

Tais divergências de opinião estão presentes no esquadrão[2] do Sgt. Frantz (Dylan McDermott), cujo único propósito é preservar a vida de seus soldados e sobreviver. Aqui, elementos típicos do conflito são retomados: treinamento, dialeto dos GIs, músicas de época, antipatia para com novos recrutas. Também se pode ver muito da tática empregada na época: pelotões[2] (munidos de
M16s, M60s e M79s) avançam com apoio de bombardeios. Os combates retratados são ferozes, fazendo deste filme um dos mais violentos sobre o Vietnã.

Entre as investidas contra o morro, a espera. Aí surgem as questões raciais, a guerra psicológica (propaganda inimiga) e debates sobre o rumo e o sentido da guerra, assim como o problema da reintegração do soldado ao “mundo real”. No decorrer do filme, as diferenças ficam mais explícitas e, ao mesmo tempo, são minimizadas diante da isonomia com que a guerra atinge a todos os soldados — brancos, negros ou asiáticos[3]. Nesse ponto, Hamburger Hill fraqueja. Idéias interessantes se perdem em diálogos truncados e até desconexos, prejudicando o aprofundamento das discussões.

Ainda vale destacar o papel dos oficiais: aqui, não há comandantes turrões, que trovejam ordens a torto e a direito. Na figura do Ten. Eden, o oficial é retratado como alguém que tem conhecimento teórico e voz de comando, mas pouca experiência de combate. Não se percebe qualquer animosidade entre superior imediato e comandados.

Enfim, com boas cenas e combates — apesar de a fotografia oscilar entre a inovação e o convencional (às vezes, parece filme para TV) —, Hamburger Hill retrata com crueza o que foi aquela operação contra o Exército Norte-Vietnamita (ENV)[4]. E o mais importante: mostra quão suja, sangrenta e trágica foi a tomada do Monte 937.



Heber Costa



[1] Do elenco, ao menos um ator ganhou projeção: Don Cheadle (Hotel Ruanda, 2004), que entrou para a trupe de George Clooney em Onze Homens e um Segredo.
[2] Na infantaria (EUA), um esquadrão tem de sete a nove homens e é comandando por um sargento. Um pelotão tem trinta homens, sendo liderado por um tenente.
[3] O roteiro comete uma injustiça: ao lado dos americanos, combateu um batalhão de sul-vietnamitas da 1ª Divisão, que sequer foi mencionado no filme.
[4] Vale fazer uma distinção: nesse caso, era o exército regular (EVN), e não os vietcongs, braço guerrilheiro que atuava mais no sul, especialmente no delta do Mekong. Nesses onze dias, foram 544 mortos do EVN contra 50 americanos.



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Apenas Mais um “Monte”

As lembranças que ficam da guerra sempre são as das montanhas de mortos. Não há como se evitar as baixas e, por incrível que pareça — tratando-se em números percentuais —, as mais numerosas ocorrem nas operações de assalto: mesmo com toda a sua eficácia, tais situações levam a grandes contingentes mortes tanto de militares quanto de civis. Uma das guerras onde se pode verificar a grandeza desses números é a Guerra do Vietnã, na qual morreram cerca de 2 milhões de vietnamitas e 50 mil norte-americanos. Observa-se a disparidade entre esses números: as baixas vietnamitas foram enormes em relação às americanas. Um das batalhas que melhor exemplifica essa situação foi a tomada da Colina 937 — conhecido entre os soldados como Hamburger Hill — no Vale Ashau.

O Vale Ashau era utilizado como principal ponto de chegada de suprimentos no Vietnã, a tomada desse monte era vital para quebrar o abastecimento das tropas inimigas. A ofensiva durou 11 dias, e o mais impressionante dessa operação foi o número de cadáveres e a situação do terreno ao final do combate. Lutando de forma quase desigual, os nativos conseguiram igualar as coisas, pois estavam numa melhor posição e com bases fixas a espera do inimigo. Os americanos utilizaram a tática habitual em uma situação como essa no Vietnã — os constantes bombardeios da artilharia e os ataques aéreos com o napalm fazendo o monte "brilhar". Sem dúvida, foi uma das mais sangrentas batalhas do ano de 1969, e as suas conseqüências não ficaram apenas na dominação das rotas de abastecimento da região. Foram além dali, repercutiram de forma dura na imagem que a guerra tinha nos Estados Unidos — nesse período a opinião publica já vinha questionando a necessidade da participação na guerra. O número de mortos e feridos levou o governo norte-americano rever a sua política ao combate no Vietnã.

O filme Hamburger Hill, que relata a história sobre a tomada do Monte 937, não podemos identificar grandes momentos históricos, a conseqüência desse evento foi mais político, contudo ele serve com um bom entretenimento para os que gostam da primeira guerra perdida pelo Estados Unidos da América.




Adriano Almeida

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